O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

segunda-feira, agosto 01, 2005

FIAR 05

(Festival Internacional de Artes de Rua)

Espectacular!

Foi um presente de aniversário atrasado, mas terá sido um dos melhores presentes de aniversário atrasados que já recebi. Obrigado Musikfreak e Psi!

L'OEULF
Marie et Tonio

Un monde fait de petits mécanismes un brin rouillés, de marionnettes et masque en bois, d'objects insolites, de musique bricolée... Mais aussi le portrait en noir et blanc d'un enfant dans an univers muet bouleversé par la chute d'une étoile, une tempête de neige et des insects géants que deviennent minuscules.


Algures dentro do universo de Tim Burton, com um tempero de "Bellevile Rendez-Vous", L'OEULF é um teatro de marionetas mágico, perturbador e tocante.
Anthony e Marie recebem os espectadores numa oficina de carpintaria como se fosse um velho loft parisiense, e movem-se pelo palco como se estivessem em casa. Marie desloca-se como se vivesse permanentemente num plateau. Anthony é um homem lindíssimo, com um rosto luminoso, com um perfil que raia o cliché, de tão francês que é: magro, displicente, despenteado, decadente, sexy; podia viver num romance de Edmund White, de Evelyn Waugh ou de Victor Hugo.


Nasci no dia 25 de Dezembro. Quando era criança misturava as letras do alfabeto. Depois tive que vender um programa para cabaret na rua, mas consegui ir à escola de noite. O professor castigava-me porque escrevia com a mão esquerda. Costumava distrair-me brincando com balões...
Quando somos crianças os olhos veêm tudo acrescentado e os ouvidos ouvem tudo mais alto. Por exemplo, para mim, as formigas eram como gigantes. as noticias só contavam coisas trágicas: guerras, miséria, poluição, excesso de população, etc... Até que um dia um meteorito caiu do céu: BUM! parecia uma bomba e o meu país transformou-se num velho cenário de natal... apagado... e deserto... senti uma imensa solidão nesse pesadelo todo branco de neve... era 25 de Dezembro.
No meu caminho, escondidos também na areia, fui encontrar milhares de ovos de formiga; eram minusculos. Estavam eclodindo; um milagre! Achei que iam dar milhares de robots...
No dia 25 de Março, o Pai Natal chegou: atrasado, é verdade, mas com uma surpresa. Era primavera de uma nova despedida. Viajei muito e voltei ao meu jardim, com milhares de sonhos dentro do meu coração e milhares de estrelas dentro da minha cabeça. Agora, sei, sei que sou filho das estrelas.



QUASE A CORRER
Teresa Lima e João Grosso
Bordoada - o grupo do sarrafo

A vida é um corridinho
corre corre sem parar
desde que um homem vem ao mundo
'té que vai a enterrar.

Cruzamento da poesia de Sá-Carneiro com a poesia popular portuguesa conjugada com ritmos de percussão tradicional.

Contagiante, macabro, endiabrado. Gil Vicente e Sá-Carneiro desenterrados e ressuscitados com mestria. E os sarrafeiros estavam tão entusiasmados que parecia mal não bater palmas, ou pelo menos dar à perninha.



CARMEN FÚNEBRE
Teatr Biuro Podrózy

Carmen Fúnebre dramatiza uma zona de conflito cujos protagonistas são simultaneamente os senhores da guerra, o medo, a violência e a impotência. Figuras demoníacas numa encenação em que som, cor e coreografia são elementos estruturantes do trabalho de Pavel Szkotak.
Espectáculo distinguído com vários prémios internacionais. Foi um dos "Espectáculos Memória" da Expo'98.

Não há muitos espectáculos que me consigam afectar deste modo. Carmen Fúnebre é de uma enorme violência, a todos os níveis, mas nunca gratuita. Claro que isso é potenciado pela temática do conflito e da opressão, até porque sabemos de início que esta é uma companhia de teatro polaca. Talvez tenham uma visão crua, desencantada, até cinica, mas não fecham as portas a nenhum futuro, e se as fecham é para, a seguir, as queimar.