O Fim do Mundo
Este post do K fez-me lembrar de um livrito de contos que tenho lá para casa, e que estava muito sossegadito, na prateleira, há demasiado tempo, apesar de eu gostar bastante dele.
Uma das pérolas, resumidamente, reza assim:
A humanidade desapareceu da face da Terra enquanto Stanley "fritava" dentro de um aparelho de radioterapia. Durante meses Stanley vagueou pelas ruas de Dublin, a seu bel prazer, convicto de que era o último ser vivo do planeta. Até que...
« - Stanley Baldwin - dirigiu-se-lhe uma voz, a que a surpresa e o prazer davam um tom enfático.»
Miriam Burke, uma paixoneta do passado, sobrevivera, em circunstâncias em tudo semelhantes, e parecia empenhada em encarnar o papel de nova Eva. Só que Stanley não está mesmo nada para aí virado.
« - Ah, já estou a perceber. Agora estás a fazer-te difícil para me castigares.
- Não - respondeu ele. - Sou homossexual - murmurou a seguir, desviando a cabeça.
- O quê?
- Homossexual! - gritou. - M-A-R-I-C-A-S.
- Não sejas idiota - retorquiu ela. - Não podes ser maricas. Não há mais nenhum homem no mundo. Aliás, nunca foste maricas. Atiraste-te a mim que nem um doido na festa da Sally Dawes. E a Finnoula Robinson fez amor contigo. Sei porque ela me contou.
- Mas agora sou - disse ele, a berrar. - Com a Finnoula Robinson foi um desastre - prosseguiu depois, num tom mais calmo. - Foi só para disfarçar o que havia entre mim e o irmão dela. Nem imaginas como era naquele tempo.
- O Henry? O meu Henry? O Henry Robinson? Mas estávamos praticamente noivos! Santo Deus!
- Ouve - pediu Stanley. - Isso agora já não interessa, pois não? Que queres que te diga? Há anos que estou apaixonado por uma pessoa, que por acaso é um homem, que por acaso sou eu, e tenho sido imensamente feliz. Cá para mim, isso significa que sou maricas, independentemente do que possa ter feito nos velhos tempos e com quem. Não quero começar outra vez a raça humana. Gosto das coisas tal como estão.»
Giro, não é!?
Excerto do conto "Ringsend", do livro "Os homens bronzeados ficam bonitos", do irlandês Frank Ronan.
Excerto do conto "Ringsend", do livro "Os homens bronzeados ficam bonitos", do irlandês Frank Ronan.
1 Comments:
At 4:30 da tarde, Anónimo said…
gosto imenso desse livro. aliás, gosto imenso do autor, razão pela qual lhe roubei o título para o blog.
tiago
(http://omelhoranjo.blogspot.com)
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