O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

segunda-feira, janeiro 24, 2005

O Fim do Mundo


Este post do K fez-me lembrar de um livrito de contos que tenho lá para casa, e que estava muito sossegadito, na prateleira, há demasiado tempo, apesar de eu gostar bastante dele.

Uma das pérolas, resumidamente, reza assim:

A humanidade desapareceu da face da Terra enquanto Stanley "fritava" dentro de um aparelho de radioterapia. Durante meses Stanley vagueou pelas ruas de Dublin, a seu bel prazer, convicto de que era o último ser vivo do planeta. Até que...

« - Stanley Baldwin - dirigiu-se-lhe uma voz, a que a surpresa e o prazer davam um tom enfático.»

Miriam Burke, uma paixoneta do passado, sobrevivera, em circunstâncias em tudo semelhantes, e parecia empenhada em encarnar o papel de nova Eva. Só que Stanley não está mesmo nada para aí virado.

« - Ah, já estou a perceber. Agora estás a fazer-te difícil para me castigares.
- Não - respondeu ele. - Sou homossexual - murmurou a seguir, desviando a cabeça.
- O quê?
- Homossexual! - gritou. - M-A-R-I-C-A-S.
- Não sejas idiota - retorquiu ela. - Não podes ser maricas. Não há mais nenhum homem no mundo. Aliás, nunca foste maricas. Atiraste-te a mim que nem um doido na festa da Sally Dawes. E a Finnoula Robinson fez amor contigo. Sei porque ela me contou.
- Mas agora sou - disse ele, a berrar. - Com a Finnoula Robinson foi um desastre - prosseguiu depois, num tom mais calmo. - Foi só para disfarçar o que havia entre mim e o irmão dela. Nem imaginas como era naquele tempo.
- O Henry? O meu Henry? O Henry Robinson? Mas estávamos praticamente noivos! Santo Deus!
- Ouve - pediu Stanley. - Isso agora já não interessa, pois não? Que queres que te diga? Há anos que estou apaixonado por uma pessoa, que por acaso é um homem, que por acaso sou eu, e tenho sido imensamente feliz. Cá para mim, isso significa que sou maricas, independentemente do que possa ter feito nos velhos tempos e com quem. Não quero começar outra vez a raça humana. Gosto das coisas tal como estão.»

Giro, não é!?

Excerto do conto "Ringsend", do livro "Os homens bronzeados ficam bonitos", do irlandês Frank Ronan.

1 Comments:

  • At 4:30 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    gosto imenso desse livro. aliás, gosto imenso do autor, razão pela qual lhe roubei o título para o blog.

    tiago
    (http://omelhoranjo.blogspot.com)

     

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