O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

sábado, março 05, 2005

Ai Freitas! Quem te viu e quem te vê...!




Surpresa, surpresa, não é. E também não me choca profundamente. Mas deixa-me uma sensação desconfortável, como uma pedra no sapato, ver Freitas do Amaral à frente do Ministério dos Negócio Estrangeiros de um Governo do PS.

Reconheço-lhe a capacidade, a experiência e o prestígio. Revejo-me, até certo ponto, nas opções diplomáticas que tem defendido. Olho com simpatía a sua aproximação à esquerda. Simpatia, mas não entusiasmo.

É que, numa família de socialistas e de comunistas, cresci a desconfiar (por vezes a abominar) tudo o que Freitas representa(va). As primeiras memórias que tenho dele reportam-se às eleições presidenciais de '86, quando a palavra de ordem, lá em casa, era "Soares é fixe!".

Sei, e não me esqueço, que Freitas do Amaral colaborou com o Estado Novo, durante o Marcellismo, que foi o fundador do CDS, que na sequência do 25 de Abril empunhou o estandarte da Direita reaccionária, que fez parte de (chegou a dirigir) alguns governos pouco felizes, que só deixou a cena política, talvez amuado, quando deixou de ter espaço e credibilidade junto dos seus pares democratas-cristãos. Também não me esqueço que apoiou o PSD do artista anteriormente conhecido como Durão Barroso, nas anteriores eleições legislativas.

Há que ter, ainda, em conta que Diogo Freitas do Amaral é o autor das peças de teatro "O Magnífico Reitor" e "Viriato", da biografia de D.Afonso Henriques, bem como do Curso de Direito Administrativo Vol. I e II. Isto para não desenvolver o facto de ser casado com a... romancista Maria Roma. Nada positivo.

Finalmente fica-me a sensação de o senhor, no fundo, não ter espinha dorsal. E de não se importar muito com quem apoia, desde que isso lhe traga algum dividendo, isto é, protagonismo, luzes da ribalta. Não sendo este o caso, fica o contorno impreciso de uma negociação obscura, um "toma lá - dá cá" desnecessário e indesejável, sobretudo para quem está na sua posição.

O que me espanta, no meio disto tudo, é o silêncio e a benevolência com que os dirigentes do PCP e do BE estão a deglutir este facto.

Vamos ver como se desenrolarão os próximos números de contorcionismo do nosso novo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

3 Comments:

  • At 6:51 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Se há coisa que aprecio enquanto qualidade de uma pessoa é a coerência, desde que isso não seja significado de estagnação e conformismo. Não sei se no caso do Freitas do Amaral tudo isto revela incoerência pura ou capacidade de ir (re)lendo o mundo à medida que este se transforma.

    Contudo, tal como o autor deste post frisou, reconheço-lhe igualmente a capacidade, e por uma breve experiência junto desta personalidade da nossa praça pública, posso afirmar que a experiência na Assembleia Geral das Nações Unidas lhe fez muito bem, e forneceu-lhe várias ferramentas para o cargo que irá ocupar.

    Quanto às reacções dos partidos mais á esquerda, ainda bem que são moderadas e muito soft (desculpem o anglicismo, até porque se há coisa que não é politicamente construtiva é criticar sem ainda ter por onde. Tudo a seu tempo.

    Já agora um bem haja a este blog :)

     
  • At 9:50 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Sim, também me causa alguma perturbação vê-lo no governo do PS. E é verdade que o Sr. se tem aproximado à esquerda e que tem tido intervenções sociais e políticas de se louvar, nomeadamente durante a guerra do Iraque. Talvez o Sr. tenha aberto a pestana. E afinal a Zita também se passou de um extremo ao outro, ou o próprio Durão Barroso. O que me faz moça e duvidar é pensar se estas pessoas terão mesmo princípios ou se mudam conforme lhes dá mais jeito. Mas enfim, já lá está agora é esperar para ver como se sai.

     
  • At 9:58 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Errata:

    Onde está moça leia-se MOSSA... Ooops..

     

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