O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

domingo, abril 03, 2005

Compromissos

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'Então mas tu não andas com o H.?' pergunto eu na minha ingenuidade.
'Sim. Já andamos há quase um ano.'
'Então...'
'...'
Momento de impasse, até que eu recupere as minhas faculdades mentais.
'Aaaaah! Já percebi!

E percebi mesmo. O P. e o H. namoram há um ano. Aliás, estão a viver juntos desde há três meses. E têm o que se chama uma relação liberal. O que, em português, quer dizer que têm liberdade para ter sexo com outras pessoas, que não o companheiro oficial.

Estou muito longe da santidade, no que toca a relacinamentos. E esta é uma situação que não me é completamente estranha. O que não quer dizer que a aprove ou aceite. Falo por mim, claro. Talvez eu seja antiquado e quadradão, mas estas relações liberais sempre me cheiraram a esturro. Sempre me pareceram uma coisa do género 'ah, bom, olha, deixa-me aproveitar enquanto este tipo está disponível, e enquanto não aparece nada melhor!'

Como qualquer questão esta também tem duas faces. E quem aceita passivamente esta situação pode estar a passar um atestado de menoridade a si próprio, do tipo: 'não valho para grande coisa e não vou conseguir encontrar alguém que respeite os meus sentimentos; portanto mais vale fechar os olhos à incontinência sexual e à insensibilidade dele.'

Este tipo de acordos é particularmente famoso e recorrente entre os casais homossexuais. Sem qualquer razão lógica, quanto a mim. É apenas mais um mito que branqueia a entrega acrítica ao estereótipo.

Talvez eu esteja a ser pouco compreensivo, fruto da irritação, por ter sido convidado a participar num destes triângulos sexuais. Obviamente a minha resposta foi um rotundo 'NÃO', uma vez que eu sei que, ao contrário do que possa parecer, uma das partes deste acordo não se sente nada confortável com as cláusulas em questão.

Não vou condenar o P. e o H. pelas suas escolhas, mas não quero fazer parte delas. Não é isso que quero para mim. Não é uma questão de monogamia. É uma questão de confiança e de compromisso. Compromisso, antes de mais para comigo próprio, para com o meu bem-estar emocional e afectivo, para com o meu orgulho e amor próprio, para com os meus valores e princípios.

4 Comments:

  • At 10:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Vários estudos indicam que muitos casais com relacionamentos de anos decidem abrir a possibilidade de relações sexuais com terceiros. Nao vejo qualquer problema com isso desde que haja acordo.

    É engraçado que algumas pessoas neste tipo de relação sentem-se muito traídas quando sentem que o afecto do companheiro por outras pessoas.

    PS: por vezes tb digo "não" quando quero dizer "sim"! :P

     
  • At 11:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Sabes que nestes temas, há uma perspectiva pessoal e uma de trabalho! Uma relação aberta, em meu ver, passa por alguma maturidade de ambas as partes. O que se encontra muito são pseudo-relações abertas baseadas em raiva, vingança, agressividade, rancor... SAD!

     
  • At 1:02 da tarde, Blogger A said…

    DITTO!
    Nem mais!
    ;)
    Toma lá um abraço, Asty.

     
  • At 11:30 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Os divórcios estão na berra porque as pessoas ainda têm uma ideia muito clássica e unilateral do conceito de relação. A sociedade postula uma determinada coisa,revestindo muitas vezes o seu preconceito moral com justificações gelatinosas. Se não houvesse ruptura com os cânones julgam que estariamos onde estamos, que pensariamos o que pensamos, que sentiriamos o que sentimos? A regra é que todos sigam o estereotipo, seja sexual, amoroso, intelectual, comportamental,etc.
    Se esse modelo não funciona para alguns casais por que é que não se deverá procurar outros modelos de relacionamento? Desde que, claro, seja de acordo total...
    Não existem mais bis, gays ou les hoje em dia do que há um século atrás. Há é uma maior exposição.
    A justificação do aborrecimento ou do desprendimento como factores para swing ou ménage tem o mesmo peso que eu dizer que hoje posso ser gay e amanhã, por volta das três, ser bi e depois de amanhã ser do psd.
    É claro que há muitos casais que querem experimentar encontrar-se numa situação deste género demasiado cedo, sem constituirem uma certa maturidade e desenvolverem a sua cumplicidade. É certo também que muitos casais poderão ser desligados, não terem grande afectividade entre si, mas também quem é que falou que haveria casamentos? Duas pessoas que já não se amam podem querer estar com outras pessoas ao mesmo tempo sem que isso entre em conflito com nada a não ser com o do próprio casal...
    Bem, já é demasiado tarde.
    Até.

     

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