O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

sábado, janeiro 29, 2005

O Vírus




Se o Kafka fosse vivo já teria escrito, de certezinha, um livro chamado O Vírus. E eu podia candidatar-me a protagonista, já que a minha vida foi avassalada pela mais diversificada ordem de vírus, desde o informático até ao da gripe.

Prometo voltar (se sobreviver) com o entusiasmo do costume. Até lá, saudínha!

segunda-feira, janeiro 24, 2005

O Princípio do Mundo

Segundo Luís Fernando Veríssimo



«(...) Dizem que Titã é como era a Terra, antes de surgir a vida orgânica. Especula-se que a vida na Terra começou assim, com a visita de turistas de outro planeta. Com as bactérias do lixo deixado por visitantes do espaço na beira de um rio de lava. Todas as espécies terrestres descenderiam de um piquenique. Tome cuidado, portanto. Quando limpar a meleca do dedo numa pedra de Titã, você pode estar começando uma civilização.»

Banda sonora para o Fim do Mundo




(estou a lembrar-me de poucas músicas, portanto, a colaboração externa é bem vinda.)

It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine) - R.E.M.

When The World Ends - Dave Mathews Band

Until The End Of The World - U2

(I'll Love You) Till The End Of The World - Nick Cave & The Bad Seeds

...

O Fim do Mundo


Este post do K fez-me lembrar de um livrito de contos que tenho lá para casa, e que estava muito sossegadito, na prateleira, há demasiado tempo, apesar de eu gostar bastante dele.

Uma das pérolas, resumidamente, reza assim:

A humanidade desapareceu da face da Terra enquanto Stanley "fritava" dentro de um aparelho de radioterapia. Durante meses Stanley vagueou pelas ruas de Dublin, a seu bel prazer, convicto de que era o último ser vivo do planeta. Até que...

« - Stanley Baldwin - dirigiu-se-lhe uma voz, a que a surpresa e o prazer davam um tom enfático.»

Miriam Burke, uma paixoneta do passado, sobrevivera, em circunstâncias em tudo semelhantes, e parecia empenhada em encarnar o papel de nova Eva. Só que Stanley não está mesmo nada para aí virado.

« - Ah, já estou a perceber. Agora estás a fazer-te difícil para me castigares.
- Não - respondeu ele. - Sou homossexual - murmurou a seguir, desviando a cabeça.
- O quê?
- Homossexual! - gritou. - M-A-R-I-C-A-S.
- Não sejas idiota - retorquiu ela. - Não podes ser maricas. Não há mais nenhum homem no mundo. Aliás, nunca foste maricas. Atiraste-te a mim que nem um doido na festa da Sally Dawes. E a Finnoula Robinson fez amor contigo. Sei porque ela me contou.
- Mas agora sou - disse ele, a berrar. - Com a Finnoula Robinson foi um desastre - prosseguiu depois, num tom mais calmo. - Foi só para disfarçar o que havia entre mim e o irmão dela. Nem imaginas como era naquele tempo.
- O Henry? O meu Henry? O Henry Robinson? Mas estávamos praticamente noivos! Santo Deus!
- Ouve - pediu Stanley. - Isso agora já não interessa, pois não? Que queres que te diga? Há anos que estou apaixonado por uma pessoa, que por acaso é um homem, que por acaso sou eu, e tenho sido imensamente feliz. Cá para mim, isso significa que sou maricas, independentemente do que possa ter feito nos velhos tempos e com quem. Não quero começar outra vez a raça humana. Gosto das coisas tal como estão.»

Giro, não é!?

Excerto do conto "Ringsend", do livro "Os homens bronzeados ficam bonitos", do irlandês Frank Ronan.

sábado, janeiro 22, 2005

Eles sabiam!!!





"PLANO SENTIMENTAL - Caranguejo tem um ano muito feliz nos amores. A conjuntura é de afectos sólidos, serenos e cúmplices. A vida sentimental vai ser a grande mais valia de Caranguejo que a este sector irá buscar a energia e suporte necessários para ser, ao longo de 2005, um vencedor."

in "Tarot 2005 previsões" da Maya


"De 3 a 9 de Janeiro -´(...) Aproveite ainda para mostrar o seu verdadeiro carisma. O romantismo está em alta mas o poder de atracção e o charme pessoal terão um papel importante a desempenhar."

in "Astrologia 2005" de Paulo Cardoso


"Caranguejo tem um ano imparável; a sua força será notória e, mesmo nos piores momentos, o seu rendimento estará muito acima da mediania. Em 2005, ser Caranguejo é sinónimo de êxito e triunfo."

Outra vez a Maya


Acho isto uma maravilha só. Vou ler o resto com muita atenção. Apenas me preocupa o facto de o aniversário do Pedro Sacana Lopes ser no mesmo dia que o meu!

Para a "gata dos livros"



Grrrraaaauuur!

quinta-feira, janeiro 20, 2005

82 anos (e um dia)



É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.


URGENTEMENTE, Eugénio de Andrade

domingo, janeiro 16, 2005

Os Livros de 2004



A opinião dos profissionais e especialistas, sobre os livros que (nos) marcaram em 2004, aqui.
Ou a triste vidínha dos livreiros, que trabalham na livraria, depois vão a trabalhar no autocarro, trabalham quando chegam a casa, trabalham quando estão na net, trabalham até quando estão na casa de banho. Desgraçados!

É este o nosso conceito de celebração. Comemoramos assim o primeiro aniversário do pilha-livros.

Sunday Freak Show

Estes fins de semana a trabalhar ainda vão dar cabo de mim! Estou a ficar irreversivelmente marcado.
Os clientes de fim de semana variam entre o zombie, completamente alienado, e o histérico descontrolado, a um passinho da esquizofrenia, à espera de uma alma misericordiosa que o abata.

Estou a desenvolver um modo de revirar os olhos muito eloquente, talvez letal.


sábado, janeiro 15, 2005

Entusiasmo

Quem passou a vista pelas postas mais recentes d'o Bairro do Amor poderá ter ficado com a sensação de que eu estava apaixonado. Não é verdade. Mas percebo que tenha passado essa ideia.
É verdade que conheci alguém que, à primeira vista, me desperta um forte interesse.
É verdade que esse interesse está longe de ser casto e inocente.
É verdade que tenho tentado aproximar-me dessa pessoa, no sentido de perceber se há mais alguma coisa que me interesse para lá de um rosto bonito.
É verdade que me agrada a simples ideia de existir alguém que me desperte o interesse adormecido, que me entusiasme, que me faça correr, que me faça ansiar, que me estimule a fantasía.
É verdade que gosto de cultivar este estado de coisas, e compreendo que, visto de fora, possa parecer demasiado arrebatado e intenso.
É verdade que, também eu, embora não pareça, sofro de medos, inseguranças, incertezas, e que isso condiciona a minha forma de agir e pensar. E a partir deste ponto só conheço dois caminhos: um deles passa por calar e esconder os sentimentos, erguer defesas a fim de evitar decepções e angústias; o outro, oposto, constrói-se através da expressão dos afectos. O primeiro é estéril, o segundo é escorregadio.
É verdade que gosto de construir castelos nas núvens e pintá-los de cores berrantes.
É verdade que, por vezes, fecho os olhos e penso em tí, e imagino-nos de mãos dadas a partilhar o mundo. Puro lirísmo, sem consequência. Reflexo condicionado.
É verdade que as cores da amizade não são estanques, misturam-se e variam, consoante a luz que sobre elas incide.
É verdade que não tenho a certeza de nada, raramente sei o que quero, e posso enganar-me em relação ao que não quero. O que penso hoje pode ser diferente do que pensarei amanhã. O que encontro muitas vezes não é aquilo que procurava.
Posto isto, o que posso dizer mais? Que gosto de ti, Rui. Que quero conhecer-te mais e melhor, que quero tocar-te - a alma e o corpo -, que espero que queiras o mesmo, que se deixares de o querer sejas honesto, que eu seja capaz do mesmo, que não te assustes com o meu dramatismo, que a minha fantasía esteja à tua altura e... mais nada.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Da Adopção

Agora, falemos de assuntos sérios.
Muito se tem falado e escrito acerca da adopção por casais de homossexuais. Não vou aqui dissertar sobre a legislação portuguesa, que é hipócrita e imbecil. Considero, simplesmente, que deve ser revista, na sequência de uma avaliação profunda dos valores que dominam a sociedade contemporânea. E para mim não existe valor mais elevado, para uma democracia, do que o da Liberdade. A lei deve regular a liberdade, garantindo o seu usufruto a todos os seus cidadãos; não cercear, anquilosar, limitar.
Ao analisar o processo da adopção deve ser tido em conta o supremo interesse da criança. Ora, eu considero que o supremo interesse da criança passa por proporcinar-lhe condições para crescer e se desenvolver em termos humanos, num ambiente equilibrado e estável, em termos económicos, sociais e afectivos.
Aqui é que a porca torce o rabo e começam os preconceitos a emergir.
Também não adianta de muito estar a enumerar as palermices que muita gente pensa e diz acerca do "estilo de vida dos homossexuais". São simplesmente PRECONCEITOS. Será que alguém, com um palminho de testa e na posse das suas faculdades mentais básicas, acha mesmo que um casal de indivíduos do mesmo sexo é menos capaz de dar amor, um lar, uma família, conforto, carinho, educação, cultura, livros, brinquedos, e tudo o mais, do que um casal composto por um homem e uma mulher?
Não quero entrar em argumentos sensacionalistas, mas os telejornais estão aí, todos os dias, a provar o contrário.

O Beijo

O ambiente no Bairro do Amor tem estado de uma lamechice que não se aguenta (Love is in the air e tal).
Por enquanto é pouco mais do que um sopro do coração, devido às altas pressões que se têm feito sentir. Mas não prometo que um dia destes não me passe uma frente quente pela vista, e como consequência, num rasgo de precipitação, não te agarre assim e não te dê um beijo com direito a 9.9 pontos numa escala qualquer.

Le Baiser de l'Hotel de Ville, Robert Doisneau

Chamem-me piroso, chamem-me lamechas, chamem-me delicodoce, chamem-me o que quiserem (mau! também não vale abusar!), mas esta é uma das minhas fotografias preferidas de todos os tempos. Porque é simplesmente bela e comporta uma carga romântica inigualável.

Com um grande beijo, para Ti.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

The Silva Mind Control Method

Ou de como os portugueses podem voltar a dominar o mundo.

Ou do porquê do excesso de Silvas no mundo.

Ou da explicação do poder de Cavaco Silva.

Ou de como as drogas alteram um bocadinho a percepção da realidade.




Ou de como vou mudar de apelido muito em breve!

domingo, janeiro 09, 2005

No filme da Tua vida

Descobri quem é que interpretaria o Teu papel, se fizessem um filme sobre Ti!
(Embora Tu sejas MUITO mais novo, e mais giro, e uses um penteado "à Beckham", e tenhas um narizinho amoroso, e tudo, e tudo, e tudo... mas fica a ideia geral.)


Tim Robbins

(Será que isto faz de mim uma espécie de Susan Sarandon?)

sábado, janeiro 08, 2005

És tu

«Quem é que abraça o meu corpo
Na penumbra do meu leito?
Quem é que beija o meu rosto,
Quem é que morde o meu peito?
Quem é que fala da morte
Docemente ao meu ouvido?
- És tu, senhor dos meus olhos,
E sempre no meu sentido.»

António Botto

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Smile


As últimas horas de 2004 agraciaram-me com um belo sorriso. E com a amargura de ser um atadinho incurável, quando a ocasião exige uma atitude descontraída e corajosa.
Por isso, durante estes dias, rezei muito a Nossa Senhora e...



Agora estou com o sorriso mais estúpido do mundo colado na cara (ao ponto de já me terem ameaçado de porrada!)

Mas quero lá saber...

I'm walking on sunshine uó-ó
I'm walking on sunshine uó-ó-ó

terça-feira, janeiro 04, 2005

Política


Quando o assunto é Política o discurso é invariavelmente o mesmo, para qualquer lado que me vire:
«Política? Que horror!»
Ou:
«Os políticos são todos uns bandidos. Só se preocupam em por algum no bolso e o resto é conversa.»

Concorde-se ou não, o descrédito em relação à classe política está generalizado, e a participação civica ressente-se desse facto. A abstenção eleitoral é altíssima, o movimento associativo é incipiente, a capacidade reivindicativa do cidadão é escassa, - por ignorância dos direitos e deveres, por passividade, ou porque parece mal.

Toda a gente protesta, mas quase sempre nos locais, na ocasião e de forma errada.

Dizer mal dos políticos é um lugar comum mas, em última análise, a classe política é uma consequência directa do povo que a elege, que a alimenta. E sobretudo do que a não elege, ao não votar.

Quem não vota não tem, a meu ver, grande moral para criticar governantes eleitos democraticamente. Não votar é desrespeitar a luta e o sofrimento de milhares de indivíduos em prol dos direitos democráticos.

Que não se acredite nos partídos, nos políticos e nas propostas apresentadas é uma coisa. Vote-se em branco. Escrevam-se obscenidades nos boletins de voto. Mas vote-se.

Não votar é pôr em causa o sistema político - imperfeito, é certo, mas o único que nos concede o direito, e o dever, de expressar livremente as nossas opiniões e convicções.

Será que perder meia hora de centro comercial, ao domingo à tarde, é pedir muito?

Vamos lá a marcar na agenda:
20 de Fevereiro - Eleições Legislatívas

Agora vejam lá em quem é que votam!

sábado, janeiro 01, 2005

EM 2005



VOU:

* Mudar de casa.

* Estabelecer relação afectiva sólida, equilibrada e funcional, baseada na afectividade e... haaa... para quê complicar; arranjar um namorado em condições.

* Dedicar-me à carreira(?) e empenhar-me no meu desenvolvimento pessoal e humano.

* Engordar pelo menos 5 Kg, nem que, para isso, tenha que ingerir colheradas de gordura animal ao pequeno almoço.

* Começar a pensar em arranjar uma maneira de tentar reduzir nos vícios e (toxico)dependências.

* Tentar realizar pelo menos 2 (duas) destas decisões de ano novo.

NÃO VOU:

* Estoirar dinheiro estupidamente em livros, cd's, roupa féxon, restaurantes caros, discotecas manhosas, álcool, drogas e pornografía.

* Envolver-me com pessoas comprometidas, narcisistas, incontinentes sexuais, pseudo-intelectualóides, advogados, enfermeiros, psicólogos, pais-de-santo, capricórnios, drag-queens, brasileiros, mais do que um marroquino ao mesmo tempo, amigos de longa data e colegas de trabalho.

(afinal 2004 não foi assim tão mau...!)

(mas, será que sobra alguém?)

* Ser visto em público em lamentável estado de embriaguês, com aspecto miserável de cão abandonado.

* Ser fácil.

* Vegetar em frente à tv, aos domingos à tarde, em estado semi-comatoso.

* Fazer planos idiotas, megalómanos e impossíveis de concretizar, para os anos vindouros.


FELIZ 2005!

Um Excelente Ano de 2005 para todos (menos para os militantes e eleitores do PPD-PSD, do CDS-PP, do PPM, do MPT, do PND e do PNR, para TODOS os advogados deste país, para a Santa Madre ICAR, para todos os homofobos, xenófobos e reaccionários em geral, o Abominável "César das Neves", Luís Delgado, Cinha Jardim e família... estou a ser redundante... para os meus chefes, para as pessoas que não suporto, para aquelas de quem não gosto nada, para aquelas de quem não gosto muito, e mesmo para aquelas que, pese o facto de não ter nada objectivamente contra elas, me irritam porque sim! Ah, e para as pessoas mal educadas e sociopatas que não me cumprimentam quando entram na loja!)