O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Daily Clark



Aparentemente não tem nada a ver. Vem esta posta divulgar o recém nascimento de mais um blogue. Este. Promete. Recomendo a visita.

O livro é apenas um isco, para tirar uma dúvida.

E então Clark? Que me dizes a este "Film Noir"?

P.S. - O belo do livro está, momentaneamente, em ruptura de stock aqui na livraria. Mas nada que não se resolva.

Há dias em que mais vale...



Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas

Há dias
Em que cada passo e mais um
Castigo de Deus
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus

A noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p'ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro

Já vi
Há dias em que tu
não cabes em ti

Avança
Na cara desse torpor
Que te perde e te seduz
A espada como a um Matador
Com o gesto maior
Do seu peito Andaluz
Avança
Com a raiva que sentes
Quando rangem os dentes
Ao peso da cruz

Enfim,
Há dias em que eu
Também estou assim

Parece que pagamos os
Pecados deste mundo
Amarrados aos remos de um
Barco que está no fundo.

Manuel Paulo/João Monge

Gostava de ouvir esta canção interpretada pela Simone de Oliveira, mas o Nuno Guerreiro é sofrivel. E, como diz a sabedoria popular: "p'ra quem é, galinha o põe!"

domingo, fevereiro 27, 2005

A minha vida dava um livro




Devia considerar seriamente a hipótese de mudar de profissão. Trabalhar com livros é lindo, dá-me um gozo enorme, mas não é nada saudável. O meu relacinamento com estes estranhos objectos está cada vez mais intenso. Isso pode ser bom, mas só até certo ponto. Acho que já passei o limite aconselhável.

Há momentos em que tenho dúvidas sobre se vivi determinados acontecimentos, ou se os li. Construí um sistema de classificação dos meus amigos, e demais pessoas com quem me relaciono, por autor: O João é um personagem de um livro do Lobo Antunes, a Maria parece ter saido da cabeça do Michael Cunningham, o Ricardo poderia ter sido inventado pelo Bret Easton Ellis e a Ana cabia perfeitamente no universo da Rita Ferro. A minha vida podia ser dividída em capítulos exactos, de três páginas cada um. E mesmo os episódios mais marcantes parecem seguir uma estrutura baseada em técnicas de escrita creativa.

Posto isto, vislumbro duas saídas, para esta situação preocupante: escrevo um livro, tipo diário, ou coisa do género, sem grandes pretensões, apresento-o à Oficina do Livro; ou então, dada a minha falta de disciplina e criatividade, arranjo um emprego atrás de uma secretária, começo a tomar anti-depressivos, e nunca mais me aproximo de um livro.

Venha o diabo e escolha. Eu não consigo.

Ben Stiller



Estarei mentalmente perturbado por achar o Ben Stiller muito sexy?

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

A Esquerda no Poder?





O Partido (dito) Socialista venceu as Eleições Legislativas com maioria absoluta. Não me regozijo com isso, mas enfim... Fico muito feliz porque a direita foi exemplarmente castigada. Fico ainda mais contente porque o Bloco de Esquerda quase triplicou a sua representação parlamentar. Na contagem final os partidos associados à esquerda ocupam quase 60% do Parlamento. Mas a situação não permite uma análise línear e simplista.

O PS já enfiou o socialismo na gaveta há uma série de anos, e a esquerda moderna, que pretende representar, herdou muito poucos dos valores que caracterizam a Esquerda. E talvez tenha sido por isso que recebeu uma votação tão significativa. Não creio que o país tenha virado à esquerda, como já ouvi e li. Quem elegeu Sócrates foi o eleitorado do centrão, o eleitorado eternamente flutuante, e os desiludidos do PSD. Por isso aguardo com grande espectativa a interpretação destes resultados, por parte do PS, e a consequente orientação da acção governativa.

Do PSD não há muito a dizer, em relação a estas eleições, a não ser que não concorreu. Quem colocou uma cruz junto ao simbolo deste partido estava a votar em Santana Lopes e no seu PPD. Na melhor das hipóteses estaria a cumprir a tradição, sem reflectir muito no assunto. É pena. Os votos foram poucos mas, mesmo assim, foram em demasia.

O verdadeiro PSD, acobardado e silenciado durante os ultimos meses prepara-se para voltar emergir. Mas com cautela. É que Santana Lopes não vai vender barata a sua derrota, e já está a preparar novos voos, com uma grande carga dramática, tão ao seu gosto.

Que dizer do PP? Paulo Portas, sinónimo de CDS, perdeu em toda a linha. Ficou provado que o eleitorado pode ser ingénuo, mas não é estúpido. Elogiaram-lhe a postura, ao assumir a derrota. De facto, foi um momento cheio de dignidade. Mas não me saiu nem por um segundo da cabeça a ideia de que a demissão de Paulo Portas não passa de um gesto falso e estudado. Quanto tempo demorarão os barões do CDS-PP a pedir a Portas, pela alminha de todos os santinhos, que não os abandone? É que o CDS, sem Paulo Portas, tem uma capacidade de expressão tão grande como uma actriz-manequim da TVI.

A CDU, por seu lado, inverteu a sangria. Conseguiu subir em número de votos e em deputados. Aponta-se a simpatía e a humanidade de Jerónimo de Sousa como responsáveis. Concordo, em parte. O grande responsável pela subida eleitoral da CDU, com reflexos no BE, foi o deslocamento do PS para a direita, deixando orfãos de representação muitos eleitores de esquerda. Ou seja, esta é uma situação irrepetível, extraordinária. Até porque, bem analisados os números, o Bloco já superou a CDU em muitos círculos eleitorais. Este poderá ter sido o canto do cisne para os comunistas.

O Bloco de Esquerda quase triplicou o número de deputados eleitos, e foi a força política que mais cresceu nestas eleições. Esta é a consequência de um trabalho que tem vindo a ser realizado com muito empenho e dedicação ao longo dos últimos cinco anos. Quem me ouvir até pode pensar que tenho alguma ligação ao Bloco. Mas não tenho. Também não sou ingénuo ao ponto de achar que este é a principal motivação. O Bloco de Esquerda ainda representa o voto de protesto de todos aqueles que não se identificam com o sistema. Situação frágil e traiçoeira. Se quiser crescer, de hoje em diante, o BE terá que tornar-se credível e responsável. Nessa caminhada poderá, por um lado, perder os votos de protesto, por outro poderá cair no erro do CDS, dando passos demasiado grandes para as suas pernas, ainda por cima em terrenos movediços, como são os da politica, e pagar uma factura igualmente cara. É preciso ter serenidade e inteligência.

Existem alguns dados curiosos. O MPT e o PPM elegeram dois deputados, cada um, nas listas do PPD/PSD. Dois partido que, até aqui, obtinham votações residuais. Estes lugares foram-lhes oferecidos por Santana Lopes, ainda não se percebeu porquê. E deve haver muta gente no partido a remoer este facto.

Outra aspecto de referir é o facto de os votos brancos e nulos praticamente terem sido ignorados durante a noite eleitoral. A verdade é que os votos nulos subiram em alguns milhares, e os brancos duplicaram. Não representaram uma rendição à tese de Saramago, mas merecem alguma atenção.

O país ficou quase coberto pela cor do PS, mas nem por isso o futuro me parece cor-de-rosa. O panorama político alterou-se radicalmente. Mas será que isso se reflectirá na atitude dos agentes políticos. Como agirá Sócrates e o Ps? Como reagirão as oposições? será desta que Portugal vai ter um rumo?

A resposta a estas e outras questões nos próximos episódios:

* Formação do Governo PS. Ou sera o Guterres Reloaded?

* Congresso do PPD/PSD ou o ajuste de contas?

* Congresso do CDS-PP ou afinal o Paulinho estava só a fazer fita?

* Eleições Autárquicas ou quantas Câmaras é que a CDU vai conseguir aguentar?

* Eleições Presidênciais ou... ufff... nem sei para onde me virar! Nem eles! será que Cavaco se chega à frente? Será que Guterres regressa? Ou será que o PS vai escolher um candidato de direita (Freitas do Amaral)? E que farão o Bloco e o PCP nessas circunstâncias? E onde ficam Santana e Portas no meio disto tudo?

Isto promete!


sábado, fevereiro 19, 2005

Reflexão




Amanhã é dia de eleições legislativas. Amanhã vou pegar nas minhas perninhas, combater a preguiça e o cansaço, e vou cumprir o meu dever/direito cívico. De outro modo não teria moral alguma para passar os próximos quatro anos a desancar a classe política nacional. E escarraria na memória de todos aqueles que sonharam, lutaram, sofreram e até morreram para que eu pudesse exprimir o que penso.

Vou pegar no papelito e marcá-lo com uma cruzinha. Não vou votar em branco. Se não me sentisse minimamente representado por uma das forças politicas a concurso votaria em branco. Se não me sentisse representado, e se achasse que não tinha a capacidade, nesse caso, para intervir activamente, no sentido de alterar esse estado de coisas, então, votaria em branco.

Vou votar no Bloco de Esquerda. Não sou militante, mas já estive mais longe disso. Nomeadamente quando fui um activíssimo militante do PS e da JS, no início do Guterrismo. Enfim, tinha 18 anos e era idealista e ingénuo. Hoje continuo a se-lo, mas o cinismo é mais forte.

Vou votar no Bloco de Esquerda porque:

* Ideologicamente considero-me um social-democrata, no sentido original da expressão. Em Portugal esta ideologia é representada pela ala esquerda do PS e por uma parte importante do BE.

* Os partidos são constituidos por pessoas. Conheço bem as que constituem o PS, e não me identifico com elas. Conheço menos bem as do BE, mas sinto bastante afinidade com a sua forma de ver o mundo.

* O programa eleitoral do BE é aquele que formúla questões e apresenta soluções que vão mais directamente de encontro ás minhas preocupações e convicções.

* Não vou votar no BE por ser meu desejo vê-lo no Governo. Não considero que, para já, tenham capacidade para tal. Acredito, no entanto, que continuarão a fazer um excelente trabalho como oposição. Serão um contrapeso à direita reaccionária e populista. Serão um motor para a construção de uma sociedade mais equilibrada, mais justa, mais aberta, mais progressiva, mais atenta, mais interventiva e, sobretudo, mais livre. E serão uma barreira contra aqueles que prentendem substituir a consciência de cada um dos portugueses. Estou a falar dos dirigentes do CDS-PP e do PPD/PSD, que defendem posições autoritárias e retrógradas em matérias como a IVG, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a adopção por homossexuais, a Lei das Drogas ou a eutanásia, entre outras. E estou a falar de partidos como o PND e o PNR, os quais, simplesmente, seriam excluídos de um mundo que se regesse pelos seus valores e convicções.

* Posso não estar inteiramente de acordo com todas as posições que o BE tem vindo a assumir. No entanto, em termos globais, é a força politica que melhor me poderá vir a representar na Assembleia da República. Por isso, e perante a impossibilidade de baixar os braços e desistir, amanhã, 20 de Fevereiro de 2005, vou votar no Bloco de Esquerda.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Feliz Dia dos Namorados

Mr. Right Now




Joseph Fiennes

Mr. Right

«Somos infalíveis na nossa escolha de amantes, particularmente quando precisamos da pessoa errada. Existe um instinto, uma força magnética ou uma antena que busca o inadequado. A pessoa errada é, obviamente, certa para determinadas coisas - para nos punir, oprimir ou humilhar, para nos desiludir, abandonar ou, pior ainda, para nos dar a impressão de não ser inadequada, mas quase certa, mantendo-nos assim presos no limbo do amor.
Não é toda a gente que é capaz de fazer isto.»

Hanif Kureishi

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Avioneta Malabarista




Não o conheço, mas isso não é muito importante. Sei que é um miúdo português que vive em Bruxelas. Sei que tem ideias próprias e uma visão do mundo. Não sei muito mais.

Gostava de ler as coisas que ele escrevia. Mesmo quando poupava nas palavras. Mesmo quando passava mais do que dois dias sem novidades. Já fazia parte da minha rotina diária.

Espero que ele volte. Depressa.

Siso


Aos 26 anos tenho a sensação que estou (finalmente?) a atingir a idade adulta.
Dou uma importância considerável à carreira - apesar de ser quase impraticável; espero vir, a breve trecho, a tornar-me proprietário (será que isto tem consequências de carácter ideológico?); estou preparado e motivado para relações afectivas estáveis (ou não!); está a nascer-me um dente do siso; demoro muito mais tempo a recuperar das borgas desalmadas do fim de semana; os meus amigos estão a casar e alguns a ter filhos (blhéque!); estou a ficar saudosista.

Não sei se quero ser "crescido". Ser "crescido" é uma condição sobrevalorizada. Apesar de ter as suas vantagens.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Carnaval...

...para mim, é Veneza.



Um misto de "Eyes Wide Shut" com um show de travecas no Mr.Gay (mas bom!).
Licenciosidade, luxúria e libertinagem de mãos dadas com bom gosto, glamour e mistério. Longe vão os tempos em que, as arcadas de Veneza dificilmente ocultavam os corpos frementes dos foliões, libertos pelo anonimato da máscara. E no entanto, algo me diz que, ao atravessar uma qualquer ponte, ainda hoje poderá estar-nos reservada alguma surpresa.




sábado, fevereiro 05, 2005

Barry White

De cortar as veias.



Adoro!

Música pop

Existe o filme e existe o livro. O filme 'tá giro, mas o livro está no top cinco dos livros da minha vida. Sempre que estou na merda sei que posso abrir o "Alta Fidelidade", pois vou lá encontrar alguma mensagem que me alivie a dor de corno. Ou que reforce a sensação de que sou mesmo um filho da mãe egoista e insensível, o que faz de mim um homem igual aos outros.


Uma das coisas mais importantes que aprendi com o "Alta Fidelidade" foi a ouvir muita música pop. Com as previsíveis consequências:

«Durante algum tempo dei uma importância espectral a qualquer canção em que uma pessoa tivesse perdido outra, e como essa classificação abrange toda a música pop, eu andava quase sempre atormentado.»

Isto está a custar mais do que devia. Mais do que o que eu queria. Mais do que o que era suposto, dadas as circunstâncias.

A minha avozínha sempre me disse: «O que arde cura...!» E eu acabei por descobrir que é verdade. E a retirar algum consolo deste facto, apesar do desconforto. Acho que se chama masoquismo. Mas resulta. Só que não é um processo ao alcance de qualquer um, visto ser perigosíssimo.

«As pessoas preocupam-se que os filhos brinquem com armas, e que os adolescentes vejam vídeos violentos; temos medo que algum tipo de cultura da violência os domine. Ninguém se importa que os miúdos ouçam milhares - literalmente milhares - de canções sobre corações destroçados e rejeição e dor e tristeza e perda. As pessoas mais infelizes que conheço, romanticamente falando, são as que gostam mais de música pop; e não sei se foi a música pop que provocou essa tristeza, mas sei que eles ouvem canções tristes há mais tempo do que vivem infelizes.»

Por isso vou aproveitar o fim de semana para um tratamento em profundidade. Vou começar pelo "How Can You Mend A Broken Heart" do Barry White e só acabo no "China In Your Hand" dos T-Pau. Há-de doer tanto que, quando acabar, vou estar insensível durante uma semana, pelo menos. E depois disso já passou tudo.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Manmachine em Xantarim

Jovem:
Tens mais de 18 anos?
Curtes abanar o esqueleto?
Vais ficar em casa, no sábado à noite, a ver o compacto da novela, com a tua avó?
Não faças isso!
Pega nas perninhas e vai até Santarém.



Garanto-te que o som é de qualidade.
'Tás-a-ver o "Alta Fidelidade"?
É do género, mas numa onda mais alternativa.
(E com alternativa eu quero dizer alternativa mesmo, não estou a falar de bixices!)

Ressaca de entusiasmo

Afinal o que penso hoje é mesmo diferente do que pensava ontem. A fantasía não serve para grande coisa e os castelos de núvens desfazem-se com o vento.

Tentar plantar nenúfares em chão de areia é uma tarefa inglória.

Huummm... começo a soar como o Sacana Lopes, com tanta metáfora!

Só para a informar que o "res-do-coração esquerdo" está vago.

Dildos

1. HAVE YOU EVER USED TOYS OR OTHER THINGS DURING SEX?
Para dizer a verdade... não! Só de(l)dos!!! Hummm... Mas já usei pessoas como meros objectos sexuais. Isso conta?

2. WOULD YOU CONSIDER USING DILDOS OR OTHER SEXUAL TOYS IN THE FUTURE?
Ai, o mais possível! Embora eu seja um frevoroso adepto do pecado da carne.

3. WHAT IS YOUR KINKIEST FANTASY YOU HAVE YET TO REALIZE?
O pudor não me permite explicitar aqui fantasias desta ordem, mas posso adiantar que envolve o extinto Exército Vermelho. Como está extinto, vai ser difícil. Mas talvez agora, que estamos a entrar na época do carnaval, talvez se arranje qualquer coisinha.

4. WHO GAVE YOU THIS DILDO?
O drama-queen ressuscitado Avioneta Malabarista, sempre a pensar na nossa felicidade!

Agora urge reencaminhar o questionário. Confesso a tentação de o enviar para os blogues dos nossos queridos líderes partidários. Mas não ia ter piadinha nenhuma vê-los a refugiarem-se no conceito de "vida privada".
Por isso, Karmageddon e Keine Problem digam de vossa justiça.