O Bairro do Amor

Uma varanda debruçada para a vida

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Enquanto contemplavas...

"Primeiro levaram os comunistas, mas Eu não me importei porque não era nada comigo.

Em seguida, levaram alguns operários, mas a Mim isso não me afectou, porque Eu não sou operário.

Depois, prenderam os sindicalistas, mas Eu não me incomodei, porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir, chegou a vez de alguns padres, mas como Eu não sou religioso, também não liguei.

Agora levam-me a Mim, e quando percebi, já era tarde."

Brecht

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Desafio: Flexibilidade

O desafio rénico pretendia apelar à nossa flexibilidade e criatividade. Eu esforcei-me mas, como detesto tomar decisões em absoluto, optei por uma apresentação multifacetada.

1 - Na linha Christy Turlington (mas reles):



2 - A flexibilidade que inspira Paulo Portas:



3 - A flexibilidade no estado puro:



Quanto ao prémio... hummm... se calhar também vou optar por uma situação de consenso.

Actriz do Ano 2004


A pedido de várias famílias, e em particular do meu amigo Cotrim, decidi abrir uma nova janela aqui no Bairro, postando fotografias de "gaijas". E esta bem merece. Não que seja particularmente boa actriz, mas tem uma presença incontornável, e fica sempre bem em qualquer estante, ou moldura, ou ecrã. Prémio Bairro do Amor para a Melhor Actriz de 2004: Angelina Jolie


terça-feira, dezembro 28, 2004

Actor do Ano 2004

Esta categoria serve apenas para eu encher as "paredes" com fotos dele, e para salivar de desejo durante horas. Ele até é bom actor, profundo, intenso q.b., versátil (!), mas o facto é que eu raramente consigo prestar atenção ao argumento de um filme que o tenha como protagonista. O Prémio Bairro do Amor para o Melhor Actor de 2004 vai para... Gael Garcia Bernal!






Personalidade do Ano 2004



Em época de avaliações, resolvi escolher a personalidade que, durante o ano de 2004 mais se destacou, pelo seu pensamento, pelo seu discurso, pelas suas acções e trabalho em prol de uma sociedade mais equilibrada e mais justa. Também pela sua capacidade para contornar obstáculos e convenções enraizadas. Por ter a inteligência para aproveitar os momentos certos. Por ter coragem para afrontar os velhos papões. Por ter ideias e não ter medo de as exteriorizar. Por ter cojones, que é o que vai faltando aos seus congéneres portugueses.

Um Natal Feliz!




Ho!Ho!Ho! Vejam só o que o Pai Natal deixou no sapatinho dos gentios do Índico!



Vou a correr rezar pela Paz no Mundo, juntamente com os tontinhos da comunidade de Taizé, não vá Ele lembrar-se que não há em Lisboa um terramoto, digno desse nome, desde 1755. E se as coisas por aqui andam pouco católicas!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

E porque não o PNR?



Ficámos hoje a saber que, ao votar PPD-PSD, nas próximas eleições legislativas, vamos estar também a votar no Partido Popular Monárquico, no Movimento Partido da Terra, e provavelmente no suposto legítimo herdeiro do suposto trono português, o fadista-cantor, D. Nuno da Câmara Pereira.

Ou de como se avizinha um derrota estrondosa e inesquecível para a direita em Portugal. Pelo menos são esses os meus votos.

Totally Destroy Canada

Cinco excelentes razões para a total e imediata destruição do Canadá:

1 - Celine Dion (nem era precisa mais nenhuma razão!)

2 - Shania Twain

3 - Brian Adams (neste caso Portugal teria que sofrer danos colaterais)

4 - Avril Lavigne

5 - Alanis Morissette (desde que cortou o cabelo)

E no entanto...

sábado, dezembro 18, 2004

Corfu

"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo: as minhas primeiras pátrias foram os livros."

Marguerite Yourcenar, in "Memórias de Adriano"




Há livros assim. Pegam em nós, sem aviso, e fazem-nos coisas e tocam-nos em sitios tão íntimos que não os podemos, nem conseguimos expôr. Não estou a falar de sexo, nem de violência, nem de qualquer coisa palpável.
Concedo que seja uma coisa minha. Talvez tenha lido coisas que falam de mim, ou de como me vejo, e por isso me tenha identificado tanto. Há momentos em que me parece que sou eu a falar, a pensar, a escrever. Em alguns momentos sinto-me em casa, encontro-me.
Li livros mais bem escritos, histórias mais bem estruturadas e interessantes. Mas "Corfu", de Robert Dessaix, ganha o Prémio Bairro do Amor para o Melhor Livro de 2004.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

ALFer Ego

Aproveitando a ideia do alter ego, este é o meu:



(Embora eu goste de pensar que sou um bocadinho mais giro!)

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Porn Star


Estes são os cinco actores portugueses a quem eu gostava de fazer um ou dois castings:

1 - Duarte Guimarães: podem vê-lo numa campanha publicitária a um telemóvel qualquer ("o 1º passo do Joãozinho..." - ele é o miudo do meio), ou ao vivo no Teatro da Cornucópia.

2 - Pedro Laginha: Troll ! Está actualmente no Hospital Júlio de Matos (ou será no Miguel Bombarda?). A trabalhar! Com a peça "Laranja Azul".

3 - Paulo Diegues: É um desconhecido, mas podem apreciar o magnífico trabalho ( e não só!) no Teatro da Trindade, com a peça "Kvetch", para a companhia "Ninho de Víboras".

4 - Miguel Borges: Artistas Unidos n'A Capital. Já falei dele.


5 - Filipe Duarte: Caiu para o último lugar. Fui ver "A Costa dos Murmúrios", onde ele aparece nuzito, e descobrí que não tem rabo. Nada. Completamente liso. Mas gostei do look clone. Só faltava o blusão de aviador.

Being Jeff Stryker



Eu e uma das "comadres" estamos a considerar mudar radicalmente de vida, e montar uma produtora de filmes porno gay. Ainda não temos a filosofia da empresa completamente delineada, mas já decidimos apostar em argumentos fortes, com particular incidência no porno-histórico, aproveitando a embalagem de filmes como "Alexandre, O Grande" e "Tróia".
Pelo que me toca, estou particularmente empenhado em desenvolver um projecto que foca o Exército Vermelho, sob uma perspectiva muito diferente da habitual. Vou deixar a cargo dele a história de D. Sebastião, após a sua captura pelo exército mouro.
Mais informo que vamos ser nós, pessoalmente, a conduzir os castings. Assim sendo, jovem, se tens mais de 18 anos e a 4ª classe (ou não), se procuras uma carreira aliciante no mundo... ahhh... do espectáculo, e achas que tens... potencial para te tornares no Jeff Stryker português, contacta-nos. Please!

segunda-feira, dezembro 13, 2004

O Escritor - parte II


Não será o meu escritor favorito. Mas se eu fosse um escritor queria ser o Paul Auster. Quando for grande quero ser como o Paul Auster. Ou parecido. Ou vagamente semelhante.
Acredito que para a maior parte das pessoas isso não queira dizer nada, que seja até aborrecido, mas para quem, como eu, vive no meio dos livros, um escritor que só escreve sobre escritores, e editores, e assistentes editoriais, e aspirantes a escritores, e sobre o mundo que os envolve, é fascinante. Também pode ser enjoativo. Mas eu acho fascinante.
Outro aspecto de que gosto particularmente na escrita do Paul Auster é o efeito matrioska: uma história dentro de uma história dentro de uma história dentro de uma história… Já está um bocado visto, mas ele tem capacidade para fugir aos lugares comuns.
Finalmente, agrada-me o ambiente de mistério, quase de sortilégio, com que Paul Auster preenche os espaços e os tempos, sem cair nos chavões do policial ou do suspense.
Isto porque estou a ler “A Noite do Oráculo”. Não é tão bom como “O Livro das Ilusões”, mas estou a gostar mesmo muito.

O Escritor - parte I



Hoje tivemos, aqui no "aquário", a visita do (entre outras coisas) romancista Tiago "Nicholas Sparks português" Rebelo, para uma sessão de autógrafos. Ficou para aqui sentado durante hora e meia, a tentar hipnotizar o telemóvel, a observar os clientes que folheavam os livros que não eram dele, a conversar com os meus colegas à falta de melhor. Livros vendidos, e respectivos autografos, dois ou três.
Em que é que estaria o escritor a pensar, cabeça apoiada no punho, olhar distante, enquanto os admiradores não vinham? Em mudar de carreira? Na lista de presentes de Natal? Na conta do Visa?
Deve ser deprimente. Quando for grande quero ser escritor (entre outras coisas). Mas não sei se quero ser escritor em Portugal. E decididamente NÃO quero ser o Tiago Rebelo.

domingo, dezembro 12, 2004

Fala Salazar

"Falam de eleições. Não vêm que é andar para trás?"

in "O Diário de Salazar", de António Trabalo, edição Parceria A. M. Pereira

Lisboa no cais da memória


Foto: Eduardo Gageiro

O rosto e os rostos de Lisboa, entre 1954 e 1974. Uma Lisboa da qual já restam muito poucos testemunhos. Uma memória de uma cidade com uma alma diferente. Imagens de um país que, não há tanto tempo assim, tinha preocupantes semelhanças com a Albânia. Momentos de um romantismo cinematográfico a cheirar a Paris. Lisboa aportada no passado, no cais da memória. Sob o olhar maior de Eduardo Gageiro.

sábado, dezembro 11, 2004

Tanti Auguri!


A minha querida "tia Vera" faz hoje anos. Queria oferecer-lhe um presente que estivesse à sua altura, mas as minhas poupanças não dão para tanto. Fica a intenção.

Lux Frágil



Desde ontem à noite que estou com umas saudades gigantescas do Alcântara. Eu sei que é tudo uma construção mental do meu subconsciente, mas a verdade é que o alcantara atingiu, na minha cabeça, o estuto de Lenda, com tudo o que isso comporta de intangível e de ilusório. Para mim é o El Dorado da diversão nocturna. E eu já só apanhei aquilo nos anos da decadência. Mas quem passou pela noite de Lisboa no início do anos 90 certamente percebe o que eu quero dizer. Se calhar estou a ficar piquinhas, quezilento, saudosista e velho, muito velho. Qualquer dia estou a utilizar espressões do género "no meu tempo..."!
Isto a propósito da minha passagem pelo Lux, ontem à noite. Não chegou a ser dramática, mas foi desagradável, quem sabe, a seu tempo, fatal.
Sempre tive uma excelente opinião a respeito daquele espaço, mas isso tem vindo a mudar nos últimos tempos. Eu sei que a crise toca a todos, mas...será preciso chegar ao ponto de deixar entrar TODA A GENTE? Não acho que uma pessoa tenha que ir toda aperaltada para a discoteca, muito pelo contrário, mas fato de treino, por muito caro que seja, parece-me realmente excessivo.
Pior que isso, não apanhava o Lux tão cheio desde a festa de aniversário. Ontem não chegou tão longe, mas deve ter andado perto. Meia hora na fila para entrar, com uma temperatura próxima da negativa; mais meia hora para no bengaleiro; quinze minutos para conseguir uma bebida; vinte minutos para comprar tabaco; no caso das mulheres mais meia hora para entrar no wc; 15 cm2 por pessoa, para dançar ao som dos 2 many dj's; resultado: uma noite para esquecer. Ou para não esquecer. Tão depressa não me devem apanhar lá outra vez. E a fama do Lux a ficar cada vez mais frágil.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Dia a Dia

"Há uma dor sem fim na lentidão do dia.
Há um pássaro de morte nos ramos do meu dia.
Esta folha reflecte a ausência das tuas folhas e é
branca e a tua face é branca
e sonha.
O teu fruto é um magoado fruto santificando os
caminhos do dia.
Feita será a tua vontade nesta terra no meio dos
céus,
no meio do dia."

José Agostinho Baptista,
in Biografia

E pergunto eu, talvez por deformação profissional:
- Será que o Código DaVinci já vendeu mais exemplares do que o Código Civil?

Happy Birthday Mr. President


Alguns odeiam-no visceralmente, outros idolatram-no. É uma figura particularmente simpática para a generalidade das pessoas; poucos ficarão indiferentes. Certo, certo, apenas que se tornou a figura mais marcante do Portugal democrático e uma das mais relevantes do século XX português.
Polémicas e classificações à parte, para mim, mais do que Pai da Democracia, Mário Soares foi o Homem que ensinou aos portugueses o significado da palavra Liberdade. Não sei se por isso lhe devemos alguma coisa; talvez gratidão, pelo menos.
Sobretudo se atentarmos a circunstâncias recentes, durante as quais ficou bem patente que já nem a figura do Presidente da República tem valor como garantia dos nossos direitos e deveres democráticos.
Por isso...
Parabéns, Sr Presidente!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

No sapatinho

Não faço tenção de perder muito mais tempo com o tema Natal. A não ser que seja mesmo, mesmo, mesmo preciso. Portanto vou já despachar o assunto.
"Querido Pai Natal, este ano, o meu presente eu quero que seja..."



Para quem, por alguma razão que me transcende, não conhece, este é o Billy Zane, o homem mai-lindo do Mundo.
E assim começa isto a descambar para a bichice! Boa!

Natal, natal, natal, natal, natal, natal, natal


Hoje não estou para aqui virado. Não tenho grande coisa para dizer. Pelo menos nada de positivo. E acho que não devia começar já a entrar numa de desabafos, a dizer que odeio isto, ou odeio aquilo.
Mas a verdade é que estamos em plena época natalícia, e o Natal tem este efeito sobre mim. Estou farto do Natal, dos embrulhinhos de Natal, das senhoras histéricas em busca dos presentes de Natal mais improváveis, das músicas de Natal imbecís e deprimentes, das decorações de Natal espalhafatosas e de mau gosto, do Pai Natal, da Sagrada Família, das famílias em geral, e da minha em particular.
O Natal devia ser como os Jogos Olímpicos: de quatro em quatro anos. Talvez assim pudesse recuperar algum do valor que já teve. Tenho saudades de quando era o Menino Jesus que trazia os presentes. O propósito era o mesmo, mas muito mais romântico. Acho que no próximo ano vou passar o Natal à Papua-Nova Guiné. Cheira-me que o Natal ainda não chegou lá.

domingo, dezembro 05, 2004

Livro para "magrinhos solitários"!


sábado, dezembro 04, 2004

Manhã fria e cheia de sol

"Hoje o céu está mais azul,
Eu sinto
Fecho os olhos, mesmo
assim
Eu sinto
O meu corpo estremecer
Não consigo adormecer"
...

Rosa - in Cinema, Rodrigo Leão

Se o Mundo não fosse assim

Assisti ontem a mais uma excelente produção dos Artistas Unidos n'a capital, no Teatro Taborda.
"Se o Mundo não fosse assim" é um texto surpreendente. Transíta constantemente do humor delirante para o drama humano profundo, de um modo que nos deixa expostos e incrédulos. Corre-se é o risco de entrar em delírio histérico, como aconteceu ontem. Depois de os actores se terem desmanchado a rir em cena, - o que se justificou plenamente, - o público ficou descontrolado e, mesmo nas cenas mais tensas, (por exemplo quando um dos personagens morre), houve sempre uma gargalhadina abafada como banda sonora.
Parabéns ao elenco, e em particular a Miguel Borges, irrepreensível como sempre. Isto para não falar daquele corpinho feito para o pecado, tanto como para o palco.
A não perder.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Bizâncio Reinventada ou A Agonia da III República

Apeteceu-me abrir uma garrafa de champagne quando soube que o nosso Presidente tinha tomado a decisão de dissolver a Assembleia da República, e fazer cair por terra o desGoverno de Sacana Lopes. Palminhas! Só peca por tardia, a decisão.
Mas, pensando melhor, achei que ainda era cedo para festejos. Afinal, até que se possam realizar novas eleições, vão uns bons três meses, durante os quais será a mesma corja a desgovernar o país. Embora com limitações, ainda há muito mal para ser feito.
Por outro lado, a ideia de um governo liderado por José Sócrates, – o homem que consegue dar uma entrevista inteira, ao Expresso, sem utilizar as suas próprias palavras, – não me deixa respirar de alívio.
Será que esta instabilidade política só a mim é que traz um cheirinho a I República, com governos a sucederem-se a governos, ministérios que duram quatro dias e políticos canibais que se atacam uns aos outros dentro dos próprios partidos? Serei só eu a sentir o aroma bizantino?
E hoje fui surpreendido por mais duas notícias de deixar os cabelos em pé. Passo a transcrever:

«Pedro Santana Lopes terá sempre a possibilidade(...)de retomar o seu lugar como presidente da Câmara de Lisboa até ao termo do presente mandato autárquico,...»

«Alberto João Jardim está disposto, “a partir de agora”, a ir para Lisboa “meter o país em ordem”.»

E com isto fiquei sem palavras.

You are the Queer... perdão, Quarry!

É o título de um dos melhores álbuns de 2004, e apanhei-o ontem, na FNAC-Chiado, a 9.95€. Quantia módica, não? Ainda bem que a música de qualidade vende pouco e os CD’s bons acabam na prateleira dos saldos.
O Morrissey vem provar que ainda está para as curvas. Mantém o ar de sacaninha, mas agora ganhou um charme de quarentão muito sexy. Continua a escrever com pontaria, ironia e agressividade bastante aguçadas.
Já conhecia as músicas todas de cor e salteado, mas agora vou ouvi-las até à náusea. Se for possível.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Teatro para "magrinhos solitários"... e não só!

"Kvetch" - calão do yiidish: queixa auto-complacente crónica.

«Kvetch - Uma peça americana sobre a ansiedade» de Steven Berkoff
De 2 a 19 de Dezembro, quarta-feira a sábado às 22h00 e domingo às 17h00, no Teatro da Trindade.

FICHA ARTÍSTICA tradução: Luís Fonseca - encenação e música original: Eduardo Condorcet - elenco (por ordem de entrada em cena): Alexandra Sargento, Karas, Paulo Diegues, Teresa Mónica, Mário Redondo (ou Eduardo Condorcet) - figurinos: Tânia Franco - cenografia: Eduardo Condorcet e Joaquim Pedro - assistência de encenação: Catarina Matos - fotografia de cena: António Coelho - grafismo: people.connection - produção executiva: Eduardo Condorcet e Karas.
Estreou no Auditório Carlos Paredes (Lisboa) a 19 de Setembro de 2003.

Vivemos todos sob a ameaça da bomba - cancro - carcinógenos - doença - desemprego - impotência - medo do medo - pretos - brancos - polícias - juros - imposto de rendimento - multas de estacionamento - esquecer as nossas deixas - perder dinheiro - ganhar demasiado dinheiro - perder cabelo - engordar - ficar feio - ser estúpido - não ter graça - ser tímido - ser tonto - ficar preocupado com qual aparelhagem comprar - como arranjar um carro - a bicicleta - aprender piano - medo de falhar - de não causar boa impressão - medo da força dos outros - medo da fraqueza - medo de ficar exposto - de não chegar a horas ao emprego - de não ter reforma - segurança - velhice - de morrer - guerra - aleijado num acidente de automóvel - medo de ficar cego - surdo - de não entender a piada - medo dos duros - medo de correr riscos - medo de nadar - de saltar - de mergulhar de uma prancha - medo da doença - medo de mexer - medo de vender - medo de comprar - medo obsessivo de aranhas - armários escuros - facas - assaltantes - medo de pessoas - festas - multidões - pessoas espertas - medo de dizer o que se pensa - medo das mulheres - medo dos homens - medo da polícia - medo da ansiedade - por isso esta peça é dedicada a tod@s.
Steven Berkoff

O Bairro do Amor - Photographia

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Manuel Alcobia

O Bairro do Amor - Manifesto (parte II)

Este é o Bairro do Amor. Um condomínio aberto a toda a gente que gosta de pensar e que tem algo a dizer. Tem uma praça soalheira, com bancos de jardim nas sombras das árvores, onde se pode descansar e conviver. As janelas têm as portadas de tabuínhas sempre escancaradas, convidando à conversa, à discussão e também ao cuscuvilhar saudável. As portas não são barreiras. São, antes, desculpas para a privacidade, para um segredo, para uma palavra ou um gesto íntimo.
O Bairro do Amor tem ruas, ruelas e becos, calcetados e floridos, que aguardam os passos dos visitantes. Tem cafés, bares e mercados, lojas de tudo e lojas de nada, onde a moeda de troca é a palavra.E tem casas espaçosas, confortáveis e humanas, para aqueles que se apaixonarem e quiserem ficar por cá. Porque no Bairro do Amor há sempre lugar para mais um.

O Bairro do Amor - Manifesto


"No bairro do amor a vida é um carrossel
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de côr
Por gente que sofreu por não ter ninguém
No bairro do amor o tempo morre devagar
Num cachimbo a rodar de mão em mão
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir:
Será que ainda cá estamos no fim do Verão?
Eh pá , deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair um pouco
Eu sei que tu compreendes bem
No bairro do amor a vida corre sempre igual
De café em café, de bar em bar
No bairro do amor o Sol parece maior
E há ondas de ternura em cada olhar
O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há hotéis, nem hospitais
No bairro do amor cada um tem que tratar
Das suas nódoas negras sentimentais
Eh pá , deixa-me abrir contigo
Desabafar contigo
Falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair um pouco
Eu sei que tu compreendes bem"
Jorge Palma